+BIO #7 – Entrevista ao Ryan Pandya

Por NEB em

Ryan Pandya, 24 anos, é o co-fundador e CEO da Muufri, uma empresa centrada no desenvolvimento de uma forma de leite mais sustentável, saudável e humana –  leite sem vacas. Durante a sua breve estadia como orador no 7th Symposium on Bioengineering tivemos a oportunidade de conhecer a investigação por de trás deste produto e a sua experiência como entrepreneur em Silicon Valley.

NEB – Fala-nos da tua formação e o que te motivou a escolher esta área de trabalho.

Ryan – Eu estudei Engenharia Química e Biológica e, apesar de tudo, nunca mostrei muito entusiasmo pela Medicina… Sinto que há muitas outras aplicações na área da Biotecnologia, para além das relacionadas com Medicina, que não se encontram bem representadas. Paralelamente, desenvolvi um grande interesse por tecnologia sem recurso a experimentação animal por me parecer uma aplicação sensata, com grande impacto e com a qual pouca gente se preocupa, tornando-a uma boa oportunidade… Talvez isto seja um bom conselho: se algo vos apaixona e parece lucrativo mas ninguém o está a fazer por alguma razão, façam-no.

NEB – Podes falar-nos da tua experiência de trabalho com Lab Grown Meat?

Ryan – Participei nesse projeto de investigação quando estava na Universidade. Numa disciplina de “Biomateriais e Engenharia de Tecidos”, no primeiro ou segundo dia de aulas, o Professor fez uma apresentação sobre as diferentes aplicações da Engenharia de Tecidos, sendo uma delas sobre comida. A possibilidade de produzir carne em laboratório pareceu-me  interessante porque é inevítavel, daqui a 500 anos vamos produzir a nossa comida, deste modo, no entanto, intrigava-me como não havia todo um curso sobre isso… As universidades Agrícolas deviam abrir departamentos inteiros para trabalhar nisso mas não é isso que acontece; Depois dessa aula fui falar com o Professor e perguntei-lhe se ele tinha algum projeto de investigação nesta área que eu pudesse integrar.  Ele respondeu que sim… Era só uma pessoa, uma aluna de Doutoramento, que tinha um “DARPA project” para estudar músculos e usava alguns dos fundos para trabalhar secretamente em “Lab grown Meat” dado que nunca conseguiria uma bolsa para esse projeto.

NEB – A utilização de insetos como fonte de proteína tem ganho cada vez mais apoiantes. Como é que vês esta opção, tanto em termos éticos como sustentáveis?

Ryan – Eu não sei se é uma opção sustentável ou não, talvez seja, no entanto o problema é: Eu acho que é um pouco nojento e penso que a maioria das pessoas pensa da mesma forma. Isso é uma grande batalha para os defensores desta opção e não a vejo a ganhar popularidade; Talvez esteja errado e acabe por comer as minhas palavras com farinha de grilo por cima.

NEB – Os GMO’s (Genetically Modified Organisms) têm causado muita controvérsia. Na tua opinião qual é o futuro desta área? Adicionalmente, onde se devem estabelecer os limites?

Ryan – Penso que se trata de uma tecnologia muito boa e importante que infelizmente se tornou um pouco mal vista porque alguns dos pioneiros não se aperceberam que poderia ser vista como algo assustador. Do ponto de vista de um cientista não nos parece assustador, sabemos exatamente o que está a ser feito tal como os cientistas que trabalhavam neste projeto na altura – e estou a tentar dar-lhes o beneficio da dúvida – têm de imaginar que trabalhando na Monsanto no início dos anos 90 não havia qualquer noção de que era necessário comunicar a informação de uma forma especial. Provavelmente eles não quiseram saber, tal como ninguém que desenvolve tecnologias quer saber… Quando os monitores a preto e branco passaram a ser a cores ninguém disse ao mundo “Não se preocupem, é seguro” porque claro que é seguro, certo? E é assim que é a biotecnologia aos olhos de quem trabalha na área, nós percebemos o que é, não é perigoso. No entanto o publico vê as coisas de uma forma diferente e eles deveriam ter dito “Isto é o que estamos a fazer, o porquê e como” e não terem começado a criar problemas com a propriedade intelectual.  Não geriram bem as coisas e agora é necessário trabalhar mais de forma a provar à população que é seguro, o que é muito dificil dado que não é possível prová-lo negativamente. Acontece o mesmo com os micro-ondas, algumas pessoas recusam-se a acreditar que são seguros porque “As pessoas usam-nos há 50 anos mas o que acontecerá quando os utilizarem há 60 anos? Talvez aí se começem a notar sinais de cancro”. Claro que isso não vai acontecer mas como o transmitir, eu não sei… É necessário porque  A) Estamos em sarilhos sem os GMO’s e B) Porquê fechar a porta a uma tecnologia inteira? Se o fogo nunca tivesse sido explorado, porque te podes queimar com ele, não seria possível criar motores de combustão interna, tem de se desenvolver e continuar a apoiar a tecnologia.

NEB – Queres deixar uma mensagem aos estudantes que aspiram a trabalhar neste campo?

Ryan“Rock on, you should!” Trabalhar em alimentação é fantástico, podes comer no trabalho e tem imenso impacto. A forma como eu o ouvi dizer foi “Se trabalhas na área alimentar terás 3 biliões de novos clientes na próxima geração”.

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