BioNOW! #71 – O teste das (personal)idades do nosso corpo

Por Pedro Almeida em

BioNOW! #71 - O teste das (personal)idades do nosso corpo

Todos nós somos culpados de já termos feito aqueles testes das 16 personalidades (Myers & Briggs) nem que tenha sido para depois compararmos e ver que personagens, filmes ou músicas somos. E se eu dissesse que pode vir a existir um teste tão amplo e com tantas aplicabilidades quanto este, só que para o nosso corpo? Poderíamos comparar os resultados obtidos e avaliar uma série de parâmetros intrínsecos aos nossos órgãos, a partir de um único e simples exame.

Pelos vistos, é possível que seja desenvolvido um teste sanguíneo que pode determinar a idade de cada um dos nossos órgãos e, a partir destes dados, determinar quais, sendo mais velhos, estão em risco e podem vir a comprometer a nossa saúde mais tarde.

Desde sempre que ouvimos que a idade é meramente um número, mas pelos vistos parece que este parâmetro nem correto está! Deixem-me colocar isto de outra forma: o relógio cronológico que começou a contar a partir do momento em que nascemos não está incorreto – apenas não é indicativo de muita coisa – o que nos interessa é a nossa idade biológica, e podemos ter mais do que uma….

Figura 1- Hierarquia de Heterogeneidade no Envelhecimento

À medida que as pessoas vão envelhecendo, as suas células sofrem um conjunto de alterações bioquímicas que levam à danificação dos órgãos e sistemas, culminando na morte do organismo – um processo que é tudo menos uniforme! É estimado que 1 em cada 5 adultos têm pelo menos um órgão em envelhecimento excessivo, comparativamente aos restantes. 

Atualmente, já existem alguns exames que permitem a determinação da idade biológica de um indivíduo, mas como um todo, no caso do relógio epigenético (análise de mutações e modificações químicas no DNA), ou no máximo, subdividindo o indivíduo em algumas (escassas) categorias, considerando o envelhecimento como sendo um mecanismo de deterioração de sistemas interligados, não sendo possível estabelecer esta relação órgão a órgão. No entanto, é preciso considerar que, apesar disto ser (em parte) verdade, a história é completamente diferente… Por exemplo, como todos sabemos, existem certos fatores e comportamentos de riscos, desde o nosso estilo de vida, à poluição do meio ao nosso redor, o que comemos ou que microrganismos patológicos entramos em contacto, todos os quais atacam especificamente certas componentes do nosso corpo.

Figura 2 – Marcadores Proteicos para Diferentes Órgãos e Relação com o Envelhecimento e Longevidade

A partir da monotorização do nível de certas proteínas de um conjunto de amostras de sangue, e após terem sido determinados os seus locais de origem (onde estavam mais fortemente concentradas) foi possível fazer a associação entre as mesmas (cerca de 18%) como marcadores de um certo órgão em específico, desde o cérebro, rins e coração.  

Os investigadores esperam que as suas descobertas levem à criação deste teste que, juntamente com o algoritmo por eles elaborado, irá avaliar desvios na concentração destes compostos, indiciadores de um envelhecimento excessivo dos órgãos em questão. Assim, através do mesmo seria possível uma intervenção mais atempada, antes mesmo que a sintomatologia das doenças (ataques cardíacos, declínio cognitivo, Alzheimer, entre outros) se torne evidente, contribuindo para o aumento da nossa longevidade.

Será que algum dia a investigação chegará a técnicas de reverter este processo? Possivelmente. Na verdade, a utilização de injeções de determinadas proteínas que visam retardar o processo de envelhecimento já se encontra a ser estudada em primatas, mas será que essa tecnologia chegará aos humanos? Isso já pode ser um tema para um BioNOW! daqui a alguns tempos…

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