BioNOW! #74 - Regeneração cardíaca através de cancro?
Passos controversos para a medicina do futuro
Alguma vez ouviste falar de cancro do coração? Se sim, ficas a saber que não só é algo extremamente raro, como mais normalmente resulta de metástases, ou seja, da migração de células cancerígenas de outros tecidos.
Como aprendemos, o cancro é uma doença fundamental da biologia, já que se pode gerar devido a causas como erros na divisão celulares, mutações, entre outras. Portanto, cancro na pele e noutros tecidos bastante proliferativos é comum, mas por oposição no coração não, já que é composto por células terminalmente diferenciadas que não entram em mitose. Há então uma relação estreita entre a capacidade de um tecido se regenerar, através da produção de novas células, e da probabilidade de ocorrência de cancro.
Durante o desenvolvimento embirónico e fetal, as células percursoras de cardiomiócitos dividem rapidamente para formar tecido estriado – o miocárdio. Contudo, após maturação perdem essa capacidade, passando a um estado senescente. No caso de dano, o coração em vez de regenerar, repara-se pelo preenchimento de tecido conjuntivo não funcional, o que em último caso leva a falha cardíaca.
Como tal, surge o máximo interesse em arranjar formas de estudar e regenerar este órgão tão vital, tal como engenheiros biomédicos de Duke procuram. A nova estratégia que a equipa está a explorar para incentivar o músculo cardíaco a regenerar não podia ser mais controversa… cancro!
O modelo em estudo basea-se na exploração da sinalização responsável pelo controlo da proliferação celular – MAPK (proteína kinase ativada por mitogénese) – aplicada a células de ratinho neonatal crescidas num ambiente 3D, possibilitado por hidrogel. Por ser já bastante estudada e conhecida que a sinalização mutada é agressiva na indução da proliferação celular, a poderosa mutação V600E no gene BRAF (B-Raf proto-oncogene), presente em melanoma, foi escolhida como alvo pela equipa.
A mutação para reverter a senescência é introduzida por infeção das células com um vírus tranportador do gene BRAF mutado, para que seja inserido de forma permanente no genoma das células. Contudo será necessário procurar melhor controlo espacial com um sistema de entrega diferente, para direcionar a mutação apenas para as células desejadas, como, por exemplo, por optogenética.
