BioNOW! #76 – De espinhas a soluções

Por Gonçalo Ricardo em

BioNOW! #76 - De espinhas a soluções

Como as bactérias se tornaram as heroínas 

Globalmente pensa-se que o acne afeta cerca de oitenta porcento dos adolescentes, afetando-o muito provavelmente a si. Já pensou então que a cura pode estar mais próxima de si do que pensa? Uma verdadeira história de redenção por parte de Cutibacterium acnes (C. acnes), que sendo uma bactéria que se alimenta da secreção das glândulas sebáceas e que quando em contacto com os poros promove a inflamação dos folículos pilosos, levando às lesões vulgarmente conhecidas como acne, pode na verdade ser uma das melhores soluções de tratamento.

Fig 1 – Representação do folículo piloso e a glândula sebácea.

Esta condição é normalmente tratada com recurso a antibióticos ou isotretinoína, um derivado da vitamina A. Estas apresentam efeitos secundários sérios, como a quebra do equilíbrio do microbioma da pele e fotossensibilidade no caso dos antibióticos e a escamação extrema da pele no caso da isotretinoína. Foi então que uma equipa constituída por diversas instituições conseguiu alterar este microrganismo para produzir e segregar a proteína NGAL, conhecida por ser um mediador da isotretinoína.

Segundo Nastassia Knödlseder, investigadora na UPF Translational Synthetic Biology Laboratory, a equipa focou-se em desenvolver uma terapia tópica e menos hostil para a pele, usando elementos já presentes na mesma de forma a evitar os diversos efeitos secundários do tratamento comum.

Fig 2 – Acne.

Isto provou ser um desafio visto que a C. acnes é considerada uma bactéria não maleável, ou seja, cujo genoma é complicado de alterar, como explicado por Knödlseder. O facto de a bactéria não perturbar o equilíbrio homeostático da pele e o seu ambiente natural ser fundo nos folículos pilosos, levou a equipa liderada por Marc Güell a persistir, sendo obrigados a aprimorar a sua técnica. A equipa focou-se em melhorar a entrega e estabilidade de informação genética nas células bacterianas, evitando usar elementos que causam preocupações na regulação da expressão genética como por exemplo a resistência a antibióticos. Estes avanços tal como explica Marc Güell, abrem portas para editar genomas de bactérias que previamente se pensava não terem utilidade, de forma a poderem tratar diversas doenças. O foco é na C. acnes mas as possibilidades de aplicação estendem-se muito mais longe!

Consulta o artigo em:

  • https://www.sciencedaily.com/releases/2024/01/240109121141.htm
Categorias: BioNOW!