BioNOW! #1 – Preservation of neurons in an AD 79 vitrified human brain

Por Eduardo Carvalho em

BioNOW! #1 – Preservation of neurons in an AD 79 vitrified human brain

“De um monte difícil de identificar, dada a distância (soube-se depois que era o Vesúvio) elevava-se uma nuvem, que se assemelhava na forma a uma árvore e, mais particularmente, a um pinheiro.”

Assim descrevia Plínio, ao escritor e historiador romano Tácito, o começo da tarde fatídica de 24 de agosto do ano 79 d.C. Conhecida como uma das maiores catástrofes naturais de que há registo, a erupção do Vesúvio fez cair duas cidades que não voltaram a ver a luz do dia – Pompeia e Herculano.

Quase dezanove séculos depois, em escavações feitas no sítio arqueológico de Herculano, foram encontrados os restos mortais de um jovem de aproximadamente 20 anos, o herói trágico desta história. Um grupo de investigadores encontrou recentemente um material vítreo, dentro da sua cavidade cranial, que ao ser sujeito a análises proteómicas e de espectrometria de massa foi identificado como tecido cerebral vitrificado.  Apesar da transformação de tecido humano em material vítreo não ser um fenómeno desconhecido – este deve-se ao rápido arrefecimento de cinzas vulcânicas que se depositam nos tecidos, após a exposição às densas e ardentes nuvens resultantes de uma erupção explosiva – a amostra revelou-se inédita pelo excelente estado de preservação. Através de Microscopia Eletrónica de Varrimento e ferramentas de processamento de imagem, os investigadores puderam visualizar inúmeras estruturas do Sistema Nervoso Central.

Figura 1- A, Axónios. B, Axónios da espinal medula (verde) intercetando células e estruturas de revestimento (amarelo e laranja).

Os resultados obtidos têm implicações importantes ao nível da antropologia biológica e até mesmo da vulcanologia, permitindo reconstruir alguns dos aspetos cronológicos desta catástrofe. E apesar de ser provável que nunca venhamos a saber o que este romano experienciou nos momentos finais, não podemos deixar de celebrar esta rara oportunidade de espreitar pela fechadura da intransponível porta para o passado.

Sabe mais em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0240017

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