BioNOW! #11 – Presente e futuro das terapias com mRNA

Por Nuno Oliveira em

BioNOW! #11 - Presente e futuro das terapias com mRNA

A utilização de RNA mensageiro para fins biotecnológicos tem sido explorada há vários anos, mas este ano chegou a sua aplicação com maior impacto social: as vacinas contra o SARS-CoV-2 da Pfizer e da Moderna. O que mais nos pode trazer esta tecnologia?

A perspetiva de usar mRNA para tratamento e prevenção de doenças tem inspirado investigações e estudos há várias décadas: a introdução deste tipo de ácido nucleico no organismo pode, em teoria, induzir a expressão de qualquer proteína-alvo. Para além disso, o mRNA é degradado ao fim de algumas horas, sem causar modificações permanentes no genoma.

Nos últimos anos, principalmente a partir de 2013, um imenso investimento nesta área levou à resolução de muitos dos seus problemas – principalmente relacionados com a entrada do mRNA nas células, com a sua estabilização e com a sua tradução em proteína. Em 2020, o conhecimento que foi sendo adquirido nesta área permitiu desenvolver uma vacina eficaz em tempo recorde; para além disso, porém, há muitas outras aplicações em fases avançadas de desenvolvimento.

Esses fármacos de mRNA podem tornar-se uma das ferramentas mais versáteis de terapia ao nível molecular. Por exemplo, estão a decorrer ensaios clínicos para mRNA capaz de estimular a formação de vasos sanguíneos no coração lesionado, equilibrar os fluidos pulmonares em doentes com fibrose cística, ou corrigir vários defeitos genéticos através do sistema CRISPR-Cas9. No entanto, ao contrário do que acontece com uma vacina, muitas destas terapias dependeriam de injeções repetidas (ou até durante toda a vida) do fármaco, o que exacerba quaisquer problemas de toxicidade, mesmo que subtis.

Para reduzir estes riscos, muitas empresas e grupos de investigação em biotecnologia têm-se esforçado para otimizar as sequências e o “veículo” que as transporta até às células-alvo. Alguns exemplos são a Arcturus Therapeutics, que desenvolveu nanopartículas lipídicas capazes de transportar mRNA especificamente até ao fígado de doentes com falta de uma enzima, e a Translate Bio, que tem usado invólucros biodegradáveis e modificações do mRNA para reduzir a resposta imune a estes fármacos. A Moderna e a BioNTech são, provavelmente, as empresas que mais notoriedade ganharam com os produtos de mRNA que desenvolveram, especialmente as vacinas que foram aprovadas nas últimas semanas.

Figura 1 – Estratégia de utilização de mRNA como fármaco ou vacina, utilizada pela Moderna. Fonte: Servick, K. On message. Science 355, 446, doi:10.1126/science.355.6324.446 (2017).

Apesar destes desafios, a pandemia demonstrou  de forma dramática o potencial desta tecnologia, bem como a possibilidade da sua produção em grande escala. Os próximos anos devem trazer novos avanços e descobertas para melhorar os cuidados de saúde em inúmeras situações.

Sabe mais em:
https://doi.org/10.1126/science.abg1977
https://doi.org/10.1126/science.355.6324.446

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