BioNOW! #64 – Alquimia moderna: das algas à eletricidade – A reescrita do conceito da energia verde
Por Maria João Cabaço em

BioNOW! #64 - Alquimia moderna: das algas à eletricidade - A reescrita do conceito da energia verde
Do carvão ao petróleo, para fontes renováveis como o Sol, o vento ou o mar, passando pela energia nuclear, a variedade de fontes energéticas é imensurável. Mas ficamos por aqui? A verdade é que a nossa dependência por energia se tem tornado mais evidente e inegável, quer seja para cozinhar, para nos aquecer, ou mesmo para escrever um artigo como este.
Prevê-se que em 2035 o número de aparelhos eletrónicos atinja o bilião e, embora se esteja a optar por equipamentos dependentes de baterias, estas conduzem a graves danos ambientais. Conseguimos fazer ainda melhor? Bem, não esqueçamos que o ditado popular diz que a necessidade aguça o nosso engenho…
Investigadores da Universidade de Cambridge testaram o que muitos considerariam impossível: alimentar um microprocessador – utilizado em vários equipamentos eletrónicos – recorrendo, indiretamente, a luz natural e água. O intermediário? Algas. O sistema bio fotovoltaico utilizado tem as dimensões de uma pilha AA (Figura 1) e recorre a Synechocystis, uma alga verde-azul fotossintética. A pequena corrente elétrica gerada aquando da captação da energia solar interage com um elétrodo de alumínio, o que permite alimentar o microprocessador.

Figura 1 – Célula fotovoltaica biológica, com ânodo de alumínio, e respetivas dimensões.
A célula é, assim, composta por materiais comuns e maioritariamente recicláveis, o que significa que poderia facilmente ser replicada e alimentar milhares de pequenos aparelhos elétricos. Opera sob luz natural e produz energia por mais de 6 meses, o que contrariou as expectativas que apontavam para apenas algumas semanas.
A crescente demanda por energia revela a vantagem deste sistema em relação a baterias, uma vez que, segundo os autores do estudo, “uma quantidade crescente de energia terá de provir de sistemas que a conseguem gerar, em vez de simplesmente a armazenar”. Além disso, este sistema fotovoltaico não se esgota como as baterias, pois utiliza continuamente a luz como fonte de energia. Sendo que as algas produzem o próprio alimento a partir da fotossíntese, este sistema requer apenas luz. No entanto, mesmo em períodos de escuridão, é gerada energia, como resultado da metabolização do alimento, que se dá quando não há luz, e que cria também uma corrente elétrica.
Esta tecnologia tem o potencial de erradicar a necessidade de recorrer a lítio em quantidades que estão para além das reservas presentes no nosso planeta, e pode vir a substituir os aparelhos fotovoltaicos tradicionais, cuja constituição pode apresentar materiais nocivos ao meio ambiente. Se telemóveis já pareceram tijolos e se para ouvir música dependíamos de gira-discos, serão algas a substituir pilhas assim tão utópico?