BioNOW! #8 – Regressão do envelhecimento em células oculares em ratinhos

Por Nuno Oliveira em

BioNOW! #8 - Reprogramação celular restaura a visão de ratinhos envelhecidos e reverte o envelhecimento das suas células

A expressão temporária de genes relacionados com o desenvolvimento embrionário em células do olho de ratinho reverte os seus padrões de envelhecimento, permitindo recuperar a visão de animais envelhecidos.

Um dos principais mecanismos de envelhecimento das células de qualquer ser vivo consiste na acumulação de modificações químicas no seu DNA. Estas alteram a expressão normal dos genes, prejudicando o funcionamento e a regeneração dos tecidos. Agora, cientistas da Universidade de Harvard descobriram um mecanismo que permite anular a maioria dessas modificações, recuperando muitas características de células jovens.

Para fazer isso, os investigadores usaram técnicas de modificação genética para fazer as células expressar temporariamente um grupo de quatro genes relacionados com o desenvolvimento embrionário (fatores OSKM). Já em 2006, descobriu-se que a indução deste conjunto de fatores de transcrição permitia reprogramar células adultas, isto é, transformá-las em células com características semelhantes às das de um embrião. Essa descoberta conduziu a experiências que tentaram usar esses genes para reverter o envelhecimento de animais, mas o surgimento de tumores agressivos levava a que isso não fosse viável.

Tendo isso em conta, este grupo de investigação induziu a expressão de apenas três desses fatores de transcrição (OSK). Ao contrário do que se tinha verificado com uma expressão prolongada dos fatores OSKM, esta nova estratégia permitiu às células manter as suas características principais – deste modo, os animais não adoeceram com cancro. Para além disso, as modificações no DNA que marcam o envelhecimento desapareceram nas células tratadas (tanto em cultura como em ratinhos vivos).

Dados os resultados encorajadores, experimentaram depois induzir a expressão dos fatores OSK em ratinhos com danos no nervo ótico e em ratinhos com problemas de visão ligados à idade avançada. Para além disso, ao fim de algumas semanas, “desligaram” novamente esses genes. Notavelmente, isto levou a um grande aumento da regeneração das células nervosas dos animais lesionados e da capacidade de visão dos envelhecidos.

Figura 1 – Esquema do ensaio de estimulação visual de alto contraste, usado para avaliar a visão dos ratinhos. Os movimentos da cabeça abrandam em animais com pior acuidade visual.

Assim, este estudo demonstra que as células envelhecidas mantêm a capacidade de recuperar um estado “jovem”, pelo menos no que diz respeito às modificações do DNA, se forem ajudadas a fazê-lo. No futuro, esse mecanismo pode vir a ser usado na terapia de lesões relacionadas com o envelhecimento, abrindo novas janelas na medicina.

Sabe mais em:
https://doi.org/10.1038/s41586-020-2975-4

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