BioNOW! #27 – Avanços na vacinação para a malária

Por Nuno Oliveira em

BioNOW! #27 - Avanços na vacinação para a malária

Os resultados dos primeiros ensaios de eficácia da vacina R21 demonstraram uma redução de 77% na incidência da doença em crianças. Se os ensaios em grande escala confirmarem este nível de eficácia, esta será a primeira vacina para a malária que atinge os standards da Organização Mundial de Saúde.

A malária é uma doença infeciosa causada por um parasita unicelular do género Plasmodium, que é transmitido através de picadas de mosquito e infeta os glóbulos vermelhos do hospedeiro. Apesar de terem sido feitos grandes avanços no seu tratamento e prevenção, esta doença continua a ser a parasitose mais mortífera, sendo responsável por mais de 400 000 mortes anuais – maioritariamente crianças com menos de cinco anos na África Subsaariana.

Atualmente, a prevenção da malária passa, principalmente, pelo controlo da população de mosquitos e pelo uso de redes de proteção tratadas com inseticida. Adicionalmente, existem fármacos que podem ser dados a crianças e grávidas e conferem proteção contra a infeção, bem como tratamentos razoavelmente eficazes. No entanto, as comunidades mais afetadas são frequentemente as mais pobres e com maior dificuldade de acesso aos mesmos. Por esse motivo, o desenvolvimento de uma vacina eficaz é um passo crucial na redução da mortalidade infantil associada à malária.

Por esse motivo, um grupo da Universidade de Oxford conduziu o primeiro estudo de uma vacina que demonstrou resultados promissores na prevenção da doença em crianças. A vacina R21 consiste em partículas semelhantes a um antigénio do vírus da Hepatite B, produzidas de forma recombinante para estarem fundidas com uma proteína do Plasmodium. Aquando da administração, é misturada com Matrix-M, um adjuvante que aumenta a resposta imune à vacina. Neste ensaio foram administradas três doses de vacina R21 ou de vacina contra a raiva (grupo de controlo) a crianças entre 5 e 17 meses, verificando-se uma redução de 77% na incidência da doença nos seis meses seguintes, sem efeitos adversos graves associados à vacina.

Assim, embora ainda sejam necessários estudos de larga escala, esta pode vir a ser a primeira estratégia de imunização suficientemente eficaz para prevenir a doença nas populações mais vulneráveis – uma ferramenta imprescindível no combate a uma das doenças que mais seres humanos matou, desde o princípio da História.

Sobre a malária: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/malaria
Sobre o ensaio: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3830681

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