+ BIO #15 – Alumni Spotlight: Inês Vigário

Por NEB em

Fala-nos um pouco do teu percurso académico, desde que entraste em Bioengenharia até que terminaste. Por exemplo, os projetos que mais gostaste de fazer e o que te levou à escolha de Eng. Biomédica em detrimento dos outros ramos.

A escolha de Biomédica já era o meu objetivo desde que entrei no curso, nunca tive grande dúvida acerca de qual dos ramos gostava mais. Sabia que em termos de interação com tudo o que era informação, equipamentos e tecnologia médica, Biomédica seria o mais indicado, por ter uma componente tecnológica mais forte. Sempre me identifiquei mais com isso, e desde o início que era essa a minha ideia do que era Bioengenharia em geral.

A minha decisão de ramo não se baseou em nenhum projeto específico. Não tenho grande comparação com o que se fez nos outros ramos, mas a partir do 3º ano começámos a ter uma componente muito forte de projetos: as pessoas trabalham em conjunto, com um determinado objetivo, e têm de se desenrascar e apresentar um produto final. Por exemplo, gostei muito da cadeira de Computação Móvel em Engenharia Biomédica apesar de não termos bases e não haver um percurso no curso que levasse a essa cadeira em específico. Nesta cadeira, tivemos de desenvolver uma aplicação no contexto médico, no meu caso, uma aplicação que media a tensão arterial, e construir todo o modelo à volta da aplicação. Não tinhamos de fazer só a aplicação, mas como toda a definição de requisitos: falar com médicos e doentes, perceber o enquadramento daquilo que tínhamos de montar, e tecnologicamente montar algo aprendendo uma determinada linguagem de programação do zero e, no final, apresentar o projeto como um produto nosso juntamente com um vídeo promocional.

Isto é capaz de ser um bocado mais transversal a todos os ramos e cursos, mas o que gostava mais da Biomédica era a maior interação com o contexto médico. Muitas vezes a introdução teórica daquilo que tínhamos de elaborar era muito mais interessante do que a teoria dos outros dois ramos. Outro fator que motivou a minha escolha foram as saídas profissionais, pois achava que a Biomédica podia abrir-me mais portas.

Antes de entrares para o mercado de trabalho ponderaste alguma vez continuar os teus estudos fazendo, por exemplo, uma pós graduação?

Sem dúvida, ainda é, obviamente, algo que pondero. Já estive para entrar numa pós graduação que há em Lisboa, e neste momento estou em ponderação mas sou capaz de ingressar no próximo ano. O curso de Bioengenharia é muito ligado à investigação, à aprendizagem constante e à inovação, logo, é da nossa vontade estar constantemente a aprender. Claro que, num contexto profissional, não estás fechado a novas aprendizagens mas, é um bocado a forma como tu te expões a isso: se estiveres sentado no teu canto e não quiseres aprender nada, as coisas não aparecem. Apesar de estar indecisa nas áreas que quero seguir, sei que fazer uma pós-graduação abre-te um leque de oportunidades e oferece-te uma maneira de pensar um bocadinho diferente, daí ser algo que ainda queria fazer. Daqui a alguns aninhos penso também em fazer um MBA…está sem dúvida na pipeline dos meus objetivos.

Quando entraste para o mercado de trabalho, sentiste que formação dada pelo curso foi suficiente, ou preferias ter ficado um ano a fazer investigação?

Tendo em conta que durante o curso fiz projetos de investigação e estágios, desde que saí do curso assumi que investigação não era um tipo de trabalho com que me identificasse muito, apesar de gostar muito de áreas de inovação. Parti logo para o mundo empresarial e acho uma ilusão acharmos que no curso vamos ter bases específicas para aquilo que o mercado empresarial está à procura: os problemas são específicos de cada empresa e cada caso é um caso. Neste momento, estou numa empresa com muita gente das áreas de gestão e economia e, sinto que, por ter um curso de engenharia como o nosso em que somos expostos a cadeiras que não têm enquadramento, aprendemos a desenrascarmo-nos, adquirindo a capacidade de ir à procura do perceber como se faz e, tentar fazer uma coisa que ninguém está a conseguir resolver. No percurso que eu fiz não houve coisas específicas que eu tenha aprendido que diga “sim senhora, isto aplica-se que nem uma luva a este problema”, acho que o que levei foi mais uma forma de trabalhar e a uma postura perante os problemas.

 

Em termos de capacidades que adquiriste, sentiste alguma falta de preparação em relação a outros engenheiros?

É assim, sem dúvida sinto que, em termos de bases de programação, cursos como Engenharia Informática/Eletrónica podem ter mais conhecimentos de bases. Porém, em termos de ferramentas para aprender a fazer, não diria que estejamos em desvantagem de todo. Em contexto profissional não estás em desvantagem, mas em termos de aberturas de porta esses cursos podem ter, primeiramente, uma porta aberta mais facilmente, e como o nosso curso é um bocadinho menos conhecido, às vezes não sabem o tipo de skills que temos. No entanto, acho que isso está a mudar um pouco: as pessoas do nosso curso têm um perfil mais interessante para perspetivas funcionais. Eu pessoalmente gosto de áreas tecnológicas, mas nunca quis ser programadora. Obviamente, gosto de lidar com pessoas que trabalham nessa área e tento perceber, a partir deles, como resolver processualmente os problemas que me são dados. Tudo depende da forma como cada pessoa se pode expor ao mercado: se virem em ti essas capacidades, não é por seres do curso de Biomédica que não te vão contratar. Essa é a minha opinião e tem sido, até agora, a minha experiência, mas nunca me candidatei a cargos de programador, apesar de nunca ser uma porta fechada.

Quando entraste no mercado de trabalho, foi fácil explicar as tuas competências?

Na minha primeira empresa, já havia uma série de pessoas de Lisboa (do curso de Engenharia Biomédica, IST). As pessoas estavam em áreas de desenvolvimento funcional, que era aquilo que eu estava a explicar. Penso que tive uma entrevista própria para recém-licenciados, ou seja, não estão à espera que saibas muita coisa, e acabam por avaliar muito mais soft skills que hard skills. No caso das experiências que tive, num sítio já conheciam o curso de Biomédica, e agora onde estou, o processo era especificamente não só para Eng. Biomédicos mas sim para gestão industrial e economia.

Como surgiu a oportunidade de trabalhares na José de Mello Saúde?

Eu não conhecia tanto a empresa como “José de Mello Saúde”, mas conhecia os hospitais CUF, como maior parte da gente conhece. É uma empresa mais conhecida cá em Lisboa do que no Porto. Entrei para um programa de trainees, mas nunca tinha ouvido falar quando estava no Porto, pois até me podia ter candidatado logo quando saí da faculdade. A empresa onde eu estava tinha a José de Mello como cliente, comecei a aperceber-me melhor do que é que se fazia na empresa, e resolvi-me candidatar-me. Não fui contactada para ingressar no programa, pois é um programa que tem sempre muitas candidaturas, ou seja, a minha entrada foi voluntária. Atualmente, tenho falado com algumas pessoas do nosso curso sobre a José de Mello, pois é uma empresa que ainda não tem muita visibilidade dentro do nosso curso.

 

Explica-nos um pouco do teu dia-a-dia…

Já fiz aqui coisas muito diferentes: estou agora na minha quarta área desde que cá cheguei (há pouco mais de dois anos). O meu dia a dia tem vindo a mudar um bocadinho: isto não é uma empresa de tecnologia médica, mas sim uma empresa que presta cuidados de saúde. Tens muita coisa à volta que é necessário fazer nos serviços que gerem esta infraestrutura grande. Neste momento, mudei em Agosto para um projeto com base no desenvolvimento de um modelo de machine learning, para fazer estimativas do custo de cirurgias. Com base na informação que nós temos dos nossos sistemas de informação, podemos montar uma algoritmo que vai aprender com o histórico das cirurgias, e como podemos saber quanto vai custar a cirurgia, sabendo as condições do cliente. Estive inicialmente a fazer o desenvolvimento deste modelo com um parceiro externo, e em conjunto com a nossa direção deste sistema de informação, estive a definir os requisitos funcionais. Agora estou na parte mais desafiante para mim, que é ter as pessoas, uma equipa administrativa, que produz essas estimativas a aprender a usar a aplicação que foi montada e a perceber quais os ganhos de eficiência que temos. Esta parte de gerir uma equipa especificamente, as suas dificuldades e problemas com outras áreas da empresa, está a ser talvez a parte mais desafiante para mim.

Já estive noutras áreas em que o meu dia-a-dia era um pouco diferente, sempre um trabalho mais ao menos de escritório, mas os meus primeiros projetos foram em hospitais, e aí tinha mais de interação com os serviços. A vida nas unidades em comparação com serviços partilhados (apoio à atividade das unidades) é um bocado diferente. O objetivo é sempre ser mais eficiente e fazer mais e melhor.

A José de Mello apresenta algumas oportunidades de estágio para pessoas de Bioengenharia?

Que eu saiba, há aqui uma proximidade maior com as pessoas do Técnico, que fazem estágios em determinadas áreas. Existem também, programas como o de Trainees, para uma fase de entrada no mercado profissional. A empresa interessa-se em ter uma relação coma academia, desde que haja áreas que estejam dispostas a aceitar as pessoas e que precisem de apoio para uma determinada função. Sei que, estes estágios, já aconteceram noutras áreas, com o Técnico.

Em relação às pessoas do Porto, os estágios teriam de estar ligados às unidades do Porto, ou ao Hospital de Braga (parceria público-privada).

Durante a tua formação imaginavas-te a fazer o que fazes atualmente?

Não, de todo. Não tinha muitas expectativas sobre quais iriam ser as oportunidades. É verdade que, o que estou a fazer agora, mudou muito a expectativa daquilo que eu pensava fazer quando estava na faculdade. Para trabalhar e para fazer a diferença em Portugal, especificamente, temos de adaptar-nos um pouco. Aquilo que é, no caso específico da Biomédica, investigação e desenvolvimento de dispositivos médicos, aplicações médicas, etc não existe, propriamente, em Portugal, mas se o nosso objetivo for ter trabalhos desafiantes onde podemos acrescentar valor e fazer a diferença, as oportunidades existem. Para o trabalho que faço atualmente, provavelmente, não precisaria de ter o curso de Biomédica, mas acho que fiz a escolha certa porque me deu skills e bases para ser uma pessoa motivada, interessada e relevante no contexto em que estou. O que nós pensávamos fazer durante o curso não existe propriamente nas empresas que operam em Portugal (talvez só em algumas startups que agora começam a surgir), nada encaixa perfeitamente no que idealizámos, só se abrires a tua própria empresa, o que é algo que também não digo que nunca o possa vir a fazer!

 

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