BioNOW!
BioNOW! #51 – A inaudita função da mitocôndria no olho
Foi na passada Semana Santa que teve lugar um encontro não menos inusitado que breve. Depois de uma manhã cinzenta, e tipicamente abrileira, abrira-se uma tarde esplendorosa. O céu de tom azul-celeste e o ar tépido e salubre incitaram-me a deambular pela floresta, que ficava a escassos minutos do local da minha estadia. Acabara de passar uns moinhos de água esquecidos no tempo, quando vislumbrei sob a copa de um pinheiro-bravo uma mancha avermelhada em movimento. Reconheci prontamente que se tratava de um Sciurus vulgaris, vulgo esquilo-vermelho – espécie outrora extinta em Portugal e que tem vindo a recolonizar o norte do país desde os anos 90. Mal tivera tempo para processar o que vira, quando a exígua criatura se voltou na minha direção e estacou, erguido sobre as duas patas traseiras. Perscrutei-lhe a minúscula face, ladeada por um par de orelhas hirtas, igualmente minúsculas. Frente a frente, questionei-me se encerrada dentro daquele pequenino olho escuro estava uma cópia, ainda que espelhada, da minha própria experiência visual.