BioNOW! #51 – A inaudita função da mitocôndria no olho

Foi na passada Semana Santa que teve lugar um encontro não menos inusitado que breve. Depois de uma manhã cinzenta, e tipicamente abrileira, abrira-se uma tarde esplendorosa. O céu de tom azul-celeste e o ar tépido e salubre incitaram-me a deambular pela floresta, que ficava a escassos minutos do local da minha estadia. Acabara de passar uns moinhos de água esquecidos no tempo, quando vislumbrei sob a copa de um pinheiro-bravo uma mancha avermelhada em movimento. Reconheci prontamente que se tratava de um Sciurus vulgaris, vulgo esquilo-vermelho – espécie outrora extinta em Portugal e que tem vindo a recolonizar o norte do país desde os anos 90. Mal tivera tempo para processar o que vira, quando a exígua criatura se voltou na minha direção e estacou, erguido sobre as duas patas traseiras. Perscrutei-lhe a minúscula face, ladeada por um par de orelhas hirtas, igualmente minúsculas. Frente a frente, questionei-me se encerrada dentro daquele pequenino olho escuro estava uma cópia, ainda que espelhada, da minha própria experiência visual.

BioNOW! #48 – O tr(i)unfo dos porcos

Para além de saciar os desejos gastronómicos mais voluptuosos, o porco tem nutrido o panorama cultural e artístico ao longo dos séculos. Homero imortalizou o episódio em que Odisseu descobre que Circe transformou os seus companheiros em porcos; a quase-bicentenária fábula dos Três Porquinhos continua a moldar crianças de todo o globo; e a pena de Orwell consubstanciou os carismáticos pensadores e líderes da Revolução Bolchevique numa autocracia porcina, naquela que será provavelmente a sátira política mais incisiva do século XX. É claro que, em todos estes casos, o porco é trazido à condição de humano e não o contrário – o que, admitamos, é compreensível. Afinal de contas, só os humanos são dotados da capacidade de comunicar as suas vivências. Ou não será este o caso?