BioNOW! #77 – Deu-me uma branca… Esqueci-me do título deste BioNOW!

Por Pedro Almeida em

BioNOW! #77 - Deu-me uma branca… Esqueci-me do título deste BioNOW!

Como as células se protegem do esquecimento da sua informação?

Certamente que já passaste por uma época de exames e um estudo tão stressantes que quando chega o momento da verdade – a frequência daquela cadeira que só te dava dores de cabeça – parece que a informação que te custou tanto assimilar desapareceu por completo! Bem, isto seria muito pior se por acaso acontecesse com o material genético das nossas células – se quando expostos a uma situação de stresse (oxidativo), inexplicavelmente, lhes desse uma “branca” e se esquecessem das funções que asseguram, por exemplo… Não vale a pena negar que os grânulos de stresse – complexos formados por proteínas acopladas a porções de mRNA não codificante (que ficou parado no início da tradução) – têm sido um assunto amplamente alvo de investigação; no entanto, não é por isso que tudo sobre eles já é sabido – ainda existem alguns passos neste processo por documentar – por exemplo, a migração destes complexos e o papel das modificações ao nível do material genético na ação contra o stresse oxidativo e proteção da informação nestes complexos!
Figura 1 – Formação de Grânulos de Stresse após Stresse Oxidativo em Células em Condições Ditas Normais (“Wild-Type Cells”) e em Células Esgotadas para a Enzima Acetiltransferase ac4C NAT10 (“NAT10KO”). Nota: O Tratamento de Arsenite é Indutor de Stresse Oxidativo.

Uma pequena modificação no material genético, conhecida como ac4C atua neste sentido – como um importante agente de defesa, promovendo a formação de grânulos de stress (do inglês stress granules), contribuindo com a promoção da migração de proteínas, aquando de uma situação particularmente desafiante. Deste modo, para a modificação de bases nucleotídicas e processos subsequentes, a participação de mRNA acetilado (isto é a adição de grupos acetil -RCOCH3) é fundamental, nomeadamente, para a tradução e orientação/ localização destes segmentos.

De uma forma simplificada, a ac4C liga-se a mRNA rico em grânulos de stresse (nos quais é mais frequente), pelo que por sua vez, este complexo passará a apresentar uma maior regulação ao nível da tradução.

O estudo realizado descobriu que a acetilação de RNA promove a migração de mRNA para formação de grânulos de stresse, em situações stressantes, afetando, em parte, a libertação de mRNA pelo ribossoma, o que permite inferir mais sobre o processo de acetilação de mRNA e da localização de RNA em grânulos de stresse.

Figura 2 – Representação Esquemática de um Grânulo de Stresse
Como já sabemos, mutações no material genético são bastante frequentes (podendo algumas destas manifestar-se, apesar de, na maioria dos casos, os mecanismos de controlo que a nossa célula dispõe atuarem efetivamente) e por vezes positivas, tendo até relevância, do ponto de vista evolutivo. De entre estas, a ac4C, apesar de ser transversal a todos os domínios da vida, não é das mais comuns e devido a dificuldades em isolar e localizar com precisão estes componentes, alguns tópicos referentes à ac4C, designadamente a sua função, ainda são um tanto controversos para a comunidade científica… De qualquer forma, os mais recentes avanços neste sentido desvendaram mais uma etapa do processo por de trás deste mecanismo e, com isso, revelou uma forma de manter inalterados diversos processos moleculares visados numa variedade de doenças… Podemos dizer que (como se fôssemos uma célula 😊) com a próxima época de frequências à vista e a vida de um estudante universitário, em geral, este mecanismo tem estado e vai continuar a estar atarefado durante os próximos tempos…
Se estiveres interessado em saber mais sobre este assunto, podes sempre encontrar mais informação em:
  • https://mbg.au.dk/en/news-and-events/news-item/artikel/new-discovery-shows-how-cells-defend-themselves-during-stressful-situations
  • https://www.sciencedaily.com/releases/2024/02/240227130728.htm
  • https://www.embopress.org/doi/full/10.1038/s44319-024-00098-6
  • https://www.nature.com/articles/s41419-021-03873-8
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