BioNOW! #31 - Mosquitos mutantes para erradicação de doenças
Todos os anos, cerca de 700 milhões de pessoas contraem doenças disseminadas por mosquitos, como o vírus Zika, o dengue e a febre amarela. Encontrar formas eficazes e sustentáveis de conter a sua propagação tem sido um processo longo e desafiante, mas um novo projeto, lançado nos Estados Unidos, pode construir um passo fundamental no combate a estas doenças.
Uma população de mosquitos geneticamente modificados, desenvolvidos pela empresa Oxitec, foi libertada recentemente na Florida com o objetivo de controlar a propagação de doenças tropicais, que se têm tornado uma preocupação cada vez mais proeminente neste estado. Os mosquitos da espécie Aedes aegypti representam uma pequena parte da população total de mosquitos na região, mas são responsáveis por quase todas as infeções detetadas. Quando se alimentam de sangue, as fêmeas da espécie tornam-se portadoras de vírus e parasitas, que são posteriormente transmitidos a humanos quando estes são picados.
A solução encontrada foi desenvolver machos de Aedes aegypti que transmitem um gene aos seus descendentes que leva à morte das fêmeas da espécie nos estados iniciais do desenvolvimento. Os descendentes machos não morrem, mas tornam-se também portadores do gene. Ao longo do tempo, isto irá diminuir a população da espécie, e consequentemente o número de infeções causadas por ela. Esta nova solução é também uma boa alternativa ao uso de inseticidas. Devido ao uso elevado destes produtos nos Estados Unidos, populações de mosquitos resistentes a inseticidas têm-se tornado mais comuns, e as formas de controlar os seus números têm-se tornado cada vez mais limitadas.
No entanto, este plano não foi totalmente bem recebido pela população do estado, que apresenta preocupações sobre os possíveis impactos que a libertação destes mosquitos pode causar. Críticos deste plano temem que fêmeas com o gene letal sobrevivam e se tornem transmissoras de doenças, algo que a Oxitec assegurou que seria muito pouco provável, e ainda que a introdução desta nova população de mosquitos possa ter impactos severos no ecossistema da região. Só o tempo dirá quais os impactos desta medida, e qual o seu potencial de uso noutras regiões do mundo.
Sabe mais em:
https://www.nature.com/articles/d41586-021-01186-6
https://www.livescience.com/first-genetically-modified-mosquitoes-us.html