BioNOW! #32 - Lítio: das baterias à paz de espírito
A revolução dos carros elétricos, trouxe não só perspetivas de uma humanidade mais consciente do seu dever para com o meio ambiente, mas também uma oportunidade de explorar um mercado em crescimento – o das baterias de lítio. Descoberto há mais de dois séculos, o lítio tem estado ultimamente no centro da discussão política e da opinião pública. Para além de fazer parte das playlists de muitos dos fãs dos Nirvana e de, no passado, ter entrado na fórmula da 7-Up, este elemento é também conhecido pelas suas capacidades terapêuticas em relação às doenças do foro psiquiátrico, ainda que seja moderadamente tóxico, pelo que deve ser sempre consumido sob supervisão de profissionais.
Perfazendo cerca de 0.002% da crusta terrestre, este elemento cujo nome vem do grego clássico e significa “pedra” está presente em todos os organismos graças à água. Estudos epidemiológicos têm mostrado que comunidades cujos aquedutos tenham níveis de lítio superiores ao normal tendem a reportar taxas de suicídio, demência e crime violento inferiores. No entanto, o mecanismo ou mecanismos exatos pelos quais o lítio atua no cérebro são ainda desconhecidos, sendo um dos obstáculos mais significativos a incapacidade de medir com precisão a sua distribuição – devido às baixas concentrações naturais.
Um artigo publicado recentemente no jornal Scientific Reports expõe uma nova técnica chamada NIK (sigla em inglês, Neutron-induced concidence) capaz de colmatar este obstáculo. A técnica consiste na incidência de um feixe de neutrões sobre um pedaço de tecido cerebral. Por sua vez, os neutrões interagem com um dos isótopos do lítio (6Li, o mais comum) dando origem a um átomo de hélio e um de trítio (3H), que são emitidos em sentidos opostos. Seguidamente, detetores localizados ao redor da amostra captam estes produtos e permitem localizar a reação num espaço tridimensional.

Figura 1 – Concepção experimental para a posição dos detetores.
Para demonstrar a sua aplicabilidade, os investigadores da Universidade Técnica de Munique recolheram e compararam amostras de tecido cerebral recolhido de três defuntos: um deles que morreu por suicídio e dois por causais naturais, para efeitos de controlo. Os resultados obtidos mostraram que os indivíduos que morreram por causas naturais apresentavam maiores níveis de lítio na matéria branca do que na matéria cinzenta, o que não acontecia no indivíduo suicida – que não apresentava diferenças significativas. Estes resultados vão de encontro a estudos animais já feitos que mostraram que a suplementação de lítio aumenta a sua concentração primariamente na matéria branca.

Figura 2 – Resultado de medição com NIK: (A) Amostra cerebral* (B) Densidade de lítio λ. Quanto à reconstrução especial, foi utilizada uma resolução de σx,y ≈ 0.4 mm. *Amostra comparativa: lobo frontal (intoxicação por lítio).
Apesar da amostra utlizada ter sido bastante pequena no que toca ao número de indivíduos, os investigadores acreditam que a técnica tem grande potencial e já planeiam futuros estudos de maior escala.
Sabe mais em:
https://www.nature.com/articles/s41598-021-86377-x