BioNOW! #49 – A promessa das terapias de tRNA

Por Nuno Oliveira em

BioNOW! #49 - A promessa das terapias de tRNA

Em 2014, uma equipa de investigadores do i3S mostrou a possibilidade de usar tRNA para corrigir uma mutação associada ao cancro gástrico difuso hereditário. Oito anos depois, quatro start-ups angariaram dezenas de milhões de dólares, prometendo levar as terapias de tRNA até ao mercado.

O cancro gástrico difuso hereditário, a beta-talassemia, a distrofia muscular de Duchenne e muitas outras doenças têm em comum o facto de serem causadas por mutações nonsense. Nestas situações, uma mutação pontual cria um codão stop num local indevido, interrompendo precocemente a síntese de uma proteína, o que leva à doença. Mas como pode ser corrigido esse erro?

Uma possível abordagem é a administração de um tRNA que interprete o codão stop como se do codão correto se tratasse, promovendo a continuação da síntese proteica. Embora a prova de conceito desta abordagem1 já tenha quase uma década (e os estudos iniciais datem de 20002), atraiu pouco interesse devido a receios sobre a sua segurança. Em particular, existe a possibilidade de se induzir a síntese de proteínas tóxicas, por não interromperem a sua síntese quando apropriado. No entanto, mais recentemente, mostrou-se que os tRNA terapêuticos induzem apenas um baixo nível de codões stop ignorados em genes normais.3

A entrega dos ácidos nucleicos às células de interesse é agora a principal barreira ao desenvolvimento destas terapêuticas, mas avanços na nanotecnologia têm ajudado a superá-la. Nos últimos três anos, os grandes volumes de financiamento atraídos pela Alltrna, Shape Therapeutics, Tevard Biosciences e hC Bioscience – start-ups de terapias com tRNA – mostraram que os investidores já não têm receio desta estratégia. Se os seus esforços funcionarem, irão abrir a porta a uma nova classe de moléculas terapêuticas.

Figura 1 – O tRNA supressor (sup-tRNA) promove a ligação de um aminoácido no local do codão stop prematuro, levando à síntese da proteína completa.

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