BioNOW! #50 - Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Marés
Se, na História, o oceano se nos apresentava como um perigoso e misterioso protagonista de diversas lendas, é certo que há muito se viu que os papéis se inverteram. A Humanidade evoluiu e tornou-se o próprio “Adamastor” que tanto nos amedrontou a imaginação no passado.
No século XX, testemunhou-se a ascensão de um material que rapidamente se tornou popular por ser leve, maleável e barato. O plástico depressa se infiltrou nas nossas vidas e em tudo o que nos rodeia e, inadvertidamente, enquanto melhorávamos a conservação de alimentos, a cosmética e o nosso próprio vestuário, negligenciámos o ar que respiramos, a água que bebemos e até o sangue que nos percorre as veias.
Agora, quando cada vez mais o que vem à rede não é peixe, urgem-se soluções para lidar com a poluição e corremos contra o tempo com o mero propósito de tentar mitigar o que já é inevitável. Enquanto reduzir o uso de plástico único é a solução para que cada vez menos microplásticos acabem no mar, o que fazer com os que já se tornaram o prato da casa de inúmeras espécies, e que prejudicam a integridade e o equilíbrio dos ecossistemas marinhos?
Filtrar as águas é uma hipótese, embora árdua e desafiante. No entanto, uma equipa de investigadores, na Indonésia, propôs uma estratégia alternativa, tirando partido do facto de que ondas de som não se propagam da mesma forma num líquido e em partículas sólidas, como os microplásticos. Assim, testou-se colocar a água contaminada num tubo que, quando envolvido por ondas de som de igual frequência, leva o plástico a concentrar-se no centro do tubo, por este se comportar de forma diferente perante a pressão proporcionada pelas ondas. Ao fazer sair a água, o caudal de plástico é desviado e obtém-se água limpa e filtrada.
O protótipo conseguiu filtrar 150 litros de água por hora e atingir eficiências a rondar os 58 %, o que representa um começo bastante promissor no que toca à limpeza dos oceanos. Apesar de mais estudos serem necessários, para contornar questões como a poluição sonora que se poderá apresentar como um inconveniente para a vida marinha, o grupo de investigadores espera conseguir melhorar as taxas de limpeza e a eficiência do processo, de modo a alertar e motivar cada vez mais pessoas para esta problemática.

Figura 1 – “Terowogan 4444” ou “Túnel 4444”, na província indonésia de Java Oriental, feito a partir do plástico recolhido em rios perto da cidade.
Enquanto este projeto ainda tem muito potencial para evoluir, a premissa em que assenta demonstrou que novas técnicas são possíveis de ser pensadas e desenvolvidas, rumo a assegurar um futuro viável para as próximas gerações e evitar que as suas oportunidades se afundem devido à cobiça de um quotidiano consumista. Irão estas ondas sonoras encaixar na partitura que ditará a harmonia que tanto almejamos para a Humanidade? Poderemos nós tornar as “Tormentas” novamente em “Boa Esperança”?